quarta-feira, 31 de março de 2010

Autoconhecimento

Apesar da profusão de livros (uns mais sérios do que outros) sobre a importância do autoconhecimento e das ações de formação que visam promover a capacidade para reconhecermos as nossas características psicológicas, ninguém é capaz de fazer uma auto-avaliação rigorosa de todos os parâmetros emocionais. É certo que precisamos de um grau de autoconhecimento elevado para que possamos lutar pelos nossos objetivos e, consequentemente, sentirmo-nos realizados. E também é verdade que cada pessoa acaba por considerar que é o melhor juiz de si mesmo. Mas até que ponto conseguimos ser rigorosos na auto-análise? Por que delegamos tantas vezes nos outros a identificação das nossas principais qualidades e dos nossos maiores defeitos?
Em sede de terapia proponho muitas vezes às pessoas que me procuram que colham, por escrito, pequenos textos das pessoas que compõem a sua rede social. Proponho-lhes que se confrontem com as opiniões daqueles com quem se relacionam – quer intimamente, quer a um nível mais superficial. A experiência é quase sempre enriquecedora e terapêutica.

Cada pessoa é normalmente capaz de identificar alguns dos seus traços de personalidade. Qualquer pessoa é capaz de avaliar os seus níveis de ansiedade. Mas os amigos são o melhor barómetro no que diz respeito, por exemplo, à avaliação da inteligência e da criatividade. Por outro lado, até um estranho é capaz de fazer uma avaliação rigorosa a propósito de um domínio específico: a extroversão.

A personalidade não é aquilo que nós pensamos que somos; é aquilo que nós somos. Algumas pessoas pensam que, por definição, nós somos os especialistas sobre a nossa personalidade porque começamos por escrever a nossa história, mas a personalidade não é a história - é a realidade. O que é que isto quer dizer? Nós podemos transmitir aos outros a nossa “versão” a respeito de quem somos – com base nos nossos pensamentos – mas as pessoas com quem nos relacionamos vêem a realidade, independentemente daquilo em que nós acreditamos.
Nós revelamo-nos através de tudo aquilo que dizemos ou fazemos. Difundimos a nossa personalidade através da roupa que escolhemos, da forma como decoramos a nossa casa ou até daquilo que colocamos no perfil do Facebook. Revelamo-nos involuntariamente, deixando pistas acerca da nossa personalidade, de que nem sempre temos consciência.
Como cada pessoa é perfeitamente capaz de mascarar as suas emoções mais profundas, como a ansiedade ou a tristeza, os outros podem não conseguir fazer uma avaliação rigorosa a este respeito. Daí que a auto-avaliação seja mais precisa na determinação dos níveis de ansiedade. Mas ninguém é capaz de fazer uma auto-avaliação rigorosa a respeito da inteligência ou da criatividade.
Em média, as pessoas que nos conhecem melhor conhecem-nos tão bem quanto nós mesmos – nem melhor nem pior. Há coisas que nós sabemos sobre nós próprios e que elas não sabem e há coisas que elas sabem a nosso respeito e que nós não sabemos. Este confronto é normalmente muito interessante.

Um comentário:

Malu disse...

muito interessante este post.
Eu ainda nessa altura do campionato ainda as vezes me confronto com uma pessoa incapaz de conseguir tais feitos achando que só fulano pode por conta disso ou aquilo...enfim...
otima lição,,,
adorei mesmo
beijoo e boa pascoa =)

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